domingo, 23 de outubro de 2016

Só sabe de fim quem sobrevive

Quem faz minha vida sou eu, disse bem cedo
Eram dezesseis ou pouco mais - ou menos - que isso
Minha mãe, seduzida pelos búzios, me dizia do futuro
E cá estou desafiando o destino pelo qual nasci

Acordo quando quero e me deito da mesma forma
Às vezes dias no tempo, outras vezes dias sem ele
Tempo, tempo, tempo, tempo
Cadê o meu pedido?

Danem-se os espelhos, os atropelos, as curvas, encruzilhadas, trilhas e conselhos
Na beira do mar, Ogum soprou: Cresce e aparece.
Soprou um grito bem tiro, certeiro
Ginguei de um lado para o outro, ninguém para segurar

Caí e levantei. Arrebitei o nariz e cresci de vez.

Só sabe de fim quem sobrevive


quarta-feira, 5 de outubro de 2016

não sei;

não sei; estávamos deitadas e, de repente, ela se vira na minha direção. É difícil. o cabelo longo, meio-liso-meio-nada se enrolava encaracolando lentamente ao meu. havia um silêncio e múltiplos e seguidos olhares. às vezes, encarava os olhos e, ai(!), que agonia. era a primeira vez que encarava e não devorava alguém. acariciava o rosto, da orelha ao queixo, leve, e pensei há quanto tempo não sabia... me entretive, não lembro dos seus olhos em mim. E detalhes importam.

Em silêncio era sua e, quando havia barulho, já não havia ninguém. Só medo.
não sei; sei lá.

O poeta nem sempre finge - não é tanto.