quinta-feira, 27 de março de 2014

Ah, me deixa.

Me deixa porque eu andei muito sobre aquelas notas musicais da 28 de Setembro. Me deixa porque já conversei muitas noites com Noel Rosa. E aquela adega ali era meu ponto de encontro na noite, todo mundo sabe.

Me deixa porque agora ando pelas cachoeiras, rios, matas, pedreiras. Me deixa porque dizem que evolui. Meu ponto de encontro é lá na Lapa, bem nos arcos, pertinho de seu Zé.


Me deixa porque eu que pago minha cerveja. Eu que sei do meu cabelo, da cor do meu batom. Eu não quero sossego mesmo não.

Me deixa porque verão já chegou. Carnaval está aí. E já que não rolou Bahia, vou de Rio de Janeiro a Janeiro.

Me deixa porque hoje eu tô do samba, amanhã do charme, depois do funk, da música popular brasileira. 


Me deixa porque sou carioca, sou espanhola. Sou parda e me chamam de nega.

Me deixa porque é fevereiro e eu já passei o ano inteiro me deixando para depois. Me deixa porque já escuto o som do tambor, a cuica berrando, os meus pés tão sambando sem nem eu dizer que chegou a hora.

Ah, dizem que samba tem hora... Samba tem hora não. A hora do samba é todo dia.

Me deixa porque tô com sorriso no rosto, já arrumei meu cabelo, botei aquela roupa e hoje passei o vermelho que é para não perder o costume. Hoje só chego amanhã, se o amanhã para mim chegar. Mas, se não chegar, chore não.

Me deixa porque eu não quero saber do que vão falar. Do que estão falando. Se eu sou boato, que se dane! Sou cria na boca de todo mundo, todo mundo sabe muito de tudo.

Me deixa porque me apaixonei por esse, já conheci aquele, apresentei ele para aquela. A vida é muito curta, vocês gostam da posição de plateia.

Me deixa porque 2014 é meu ano. Me deixa porque estou concretizando todos os meus sonhos e ainda vão ouvir falar muito de mim. Se vão!

Me deixa porque não tem graça alguma passar pela vida desfilando. Eu sou da pista, não do camarote. Eu vim para cravar esse chão, deixar meus rastros. Me deixa porque não sou de viver em vão, sou todo coração e minha obrigação é ser feliz.

Me deixa e traz mais uma cerveja aí, que tá faltando inspiração. Ainda tem muito samba pela frente, muito papel para rabiscar e ainda é sexta-feira. Me deixa que minha semana quem começa sou eu.

Ah, me deixa... 

terça-feira, 25 de março de 2014

Amor cortês

Queria poder falar de amor
Mas, de amor não sei falar mais não, moço.
Se foi amor o que vivi, há de ser coisa pouca.

Não sei o que é amar não, moço.
Se for amor as carícias, o toque...

De amor sei um pouco, sim.
Mas, não sei se foi amor não.



Amor, moço, é feito dar a luz à alguém
É permitir esse alguém nascer onde a gente se criou
Amor faz a gente se contrair todinho
Até ficar bem pequenininho, feito broto que vira flor.

Mas, amor dói moço.
Disso bem sei.
Sei se quero sentir isso não.

Ele é danado, entra na gente e não aceita sair.
Pode corroer também, do mesmo jeito que contrai.

O amor é cortês moço, já ouvi dizer.
Amor pode ser cortesia
Mas não se esquece de ser corte.