terça-feira, 10 de março de 2015

Escrevo...

Meu real talento sempre foi escrever. Nunca foi frequentar faculdade, responder questões, participar de palestras. Nunca foi pensar em tcc. Também nunca foi passar o dia em uma escola dando aula nem estar em meio a tanta vaidade barata. Mas, meu real talento não me rende nada, sem ser elogios e leituras e parece que, ainda assim, me rende tudo o que preciso para viver, menos sobrevivência.

Há quem diga que devo parar e digo que não posso. Há quem diga que perco muito meu tempo, mas não perco. Há quem diga que é bobagem, relevo. Eu digo que sem escrever, meu talento não existe, não existo por completo e existir para quem tem talento já é muito vão. Muito não.

Pois então, o que dizem levar todos à algum lugar, não leva ninguém a nada. Escrever também não me leva a lugar algum. Estamos empatados. Você com suas sobras, eu com meus restos.

Porque é de restos que escrevo. Meu talento vem do que sobrevive ao breu, do que sustenta o inferno: vem de mim, do que há de mais profundo e inexato em um ser que pensa ser de humanas, quando na verdade, é muito humano.
 
E é por isso que não posso deixar de escrever, é por isso que enquanto um ler, estarei aqui. Porque sem escrever nada se organiza, subtrai.

3 comentários:

  1. Ler e escrever, melhor forma de expandir, transbordar, transparecer, e organizar nossos pensamentos... escrever soma, ler multiplica... só não podemos subtrair..

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  2. TRADUZIR-SE

    Uma parte de mim
    é todo mundo:
    outra parte é ninguém:
    fundo sem fundo.

    uma parte de mim
    é multidão:
    outra parte estranheza
    e solidão.

    Uma parte de mim
    pesa, pondera:
    outra parte
    delira.

    Uma parte de mim
    é permanente:
    outra parte
    se sabe de repente.

    Uma parte de mim
    é só vertigem:
    outra parte,
    linguagem.

    Traduzir-se uma parte
    na outra parte
    - que é uma questão
    de vida ou morte -
    será arte?

    Ferreira Gullar

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