Meu real talento sempre foi escrever. Nunca foi frequentar faculdade, responder questões, participar de palestras. Nunca foi pensar em tcc. Também nunca foi passar o dia em uma escola dando aula nem estar em meio a tanta vaidade barata. Mas, meu real talento não me rende nada, sem ser elogios e leituras e parece que, ainda assim, me rende tudo o que preciso para viver, menos sobrevivência.
Há quem diga que devo parar e digo que não posso. Há quem diga que perco muito meu tempo, mas não perco. Há quem diga que é bobagem, relevo. Eu digo que sem escrever, meu talento não existe, não existo por completo e existir para quem tem talento já é muito vão. Muito não.
Pois então, o que dizem levar todos à algum lugar, não leva ninguém a nada. Escrever também não me leva a lugar algum. Estamos empatados. Você com suas sobras, eu com meus restos.
Porque é de restos que escrevo. Meu talento vem do que sobrevive ao breu, do que sustenta o inferno: vem de mim, do que há de mais profundo e inexato em um ser que pensa ser de humanas, quando na verdade, é muito humano.
E é por isso que não posso deixar de escrever, é por isso que enquanto um ler, estarei aqui. Porque sem escrever nada se organiza, subtrai.
Ler e escrever, melhor forma de expandir, transbordar, transparecer, e organizar nossos pensamentos... escrever soma, ler multiplica... só não podemos subtrair..
ResponderExcluirNossa! Adorei!!!
ResponderExcluirTRADUZIR-SE
ResponderExcluirUma parte de mim
é todo mundo:
outra parte é ninguém:
fundo sem fundo.
uma parte de mim
é multidão:
outra parte estranheza
e solidão.
Uma parte de mim
pesa, pondera:
outra parte
delira.
Uma parte de mim
é permanente:
outra parte
se sabe de repente.
Uma parte de mim
é só vertigem:
outra parte,
linguagem.
Traduzir-se uma parte
na outra parte
- que é uma questão
de vida ou morte -
será arte?
Ferreira Gullar