quarta-feira, 7 de maio de 2014

"Estou num daqueles dias em que nunca tive futuro", disse Fernando Pessoa na carta a Mario de Sá Carneiro, em 1916. Fernando Pessoa, um grande da Literatura Portuguesa, nunca me fez ler algo com tanta compaixão. Sei bem do que fala. Sei desse sentimento de estrangeirismo, onde nada ao redor nos compõe, nada nos alimenta. Veja bem, nada nos alimenta. Nós, com essa alma que ânsia por tudo, morremos é de fome!
E já que não tenho noção nem interesse sequer desejo pela posse, o que seria depois de tudo se desapropriar de mim, de fato, meu? Não tenho nada, finjo ter tudo - porque sou poeta e, como Pessoa afirma, "O poeta é um fingidor", mas juro ao leitor que essa dor é sentida - e mesmo assim, falo do que não sei. É isso: eu não sei. É um vazio que dá, um jeito estúpido de ser um zé ninguém que me toma de mim. Nesses dias, nos dias em que nunca tive futuro, só penso no meu quarto, com a cortina fechada - aprecio imensamente o escuro de fora, que se mistura e se perde no que há dentro de mim - e minhas músicas tocando em modo aleatório porque desejo não me acostumar a absolutamente nada. Mesmo não havendo ao que ou a quem me acostumar... Só há um estranho aqui e esse estranho sou eu. Ironicamente, nem o espelho me reconhece, mas aqui, nesse escuro é mais seguro e bem melhor. Fora desse quarto, há muito, há o mundo, há você e sinceramente, estar junto é muito ruim. Quase ninguém me acrescenta e digo quase porque gosto de ser sutil. A maioria palavreia demais e empobrece a conversa. Minha cerveja eu divido com quem gosto porque ela é feito a água benta dos que andam sós até quando estão juntos. Prefiro ficar a cá, nesse escuro que já me domina. Aqui converso comigo e vou me entendendo... E, por favor, não me venha dizer que devo ir ao psicólogo, nem me atribua depressões sem tese.
Solidão contemporânea: disso que sofro. Parece absurdo. Na carta de Fernando Pessoa que usei anteriormente ele diz: "mas neste momento sinto que as frases absurdas dão uma grande vontade de chorar". Pois bem, feche a p
orta do meu quarto, a tranque e me deixe só com minhas lágrimas de hoje, pois do amanhã já não sei mais. Nunca soube.